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Compulsão alimentar leva a obesidade, risco de hipertensão e diabetes

Apetite exagerado, vontade incontrolável de comer quando está triste ou ansiosa e devorar a comida com muita velocidade e pouca mastigação. Esses são alguns dos sintomas da compulsão alimentar, transtorno que leva a obesidade e outras doenças associadas, como hipertensão e diabetes. Dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) dão conta de que metade da população brasileira está acima do peso e nesse contexto, a maioria é diagnosticada como compulsiva alimentar.

Não há, porém, uma causa bem estabelecida que explique a ocorrência de comportamentos compulsivos. O psicoterapeuta Alessandro Vianna afirma que há alguns fatores que podem desencadear o problema:

Vulnerabilidade e predisposições: pode ser de elementos familiares, tais como hábitos ligados a uma extrema insegurança e aprendidos no meio familiar, mas também pode ser por razões individuais e relacionadas às vivências do passado;

Razões biológicas: comportamentos compulsivos podem ser entendidos como atitudes de enfrentamento da ansiedade/angústia trazendo conseqüências físicas, psicológicas e sociais graves;

Razões emocionais: a pessoa sente um vazio ou angústia interior e tende a preenchê-los com o pontual prazer da comida. Depois vem a digestão e volta o vazio, havendo a necessidade de novo preenchimento, o que torna esse processo cíclico;

Maus hábitos alimentares: nesse caso, a compulsão alimentar pode aparecer por conta das restrições alimentares feitas durante as dietas radicais. Aí o organismo cria um mecanismo de estímulo natural, levando à ingestão excessiva de comida para equilibrar os níveis de serotonina. Após longos períodos de jejum também é muito comum um ataque compulsivo, como é o caso dos comedores compulsivos noturnos, que não ingerem quase nada durante o dia e à noite o organismo tende a compensar a dieta. Muitos acordam para comer e ingerem mais de 50% das calorias diárias.

Os maus hábitos alimentares e a personalidade compulsiva obsessiva foram o que levou Maria Carolina Ferreira* a desenvolver o transtorno. “Eu sempre comi errado e me achei gordinha. Se dependesse de mim, eu comia só bolo, pães e doces. Comecei a fazer dieta aos 9 anos, motivada pela minha mãe. Aí fazia regimes prescritos por endocrinologistas ou as dietas da moda. Mesmo assim tinha vontade de devorar tudo que via pela frente e quanto mais eu comia, mais queria comer. Cheguei a engordar 30 quilos em um ano. Fora isso, comia para preencher um buraco vazio e se tirassem minha comida, ia para o álcool, se tirassem álcool, ia para as drogas”, conta a comedora compulsiva.

Junto com a rapidez e grande quantidade de comida ingerida em um curto espaço de tempo, mas num ciclo repetitivo e contínuo, vem o arrependimento e tristeza após cada refeição exagerada e a possibilidade de desenvolver outros transtornos alimentares como bulimia e anorexia. “Tem casos de pacientes que ingerem 5000 calorias de uma vez só e depois, arrependidas, tentam provocar vômito”, diz a nutricionista Karina Barros. Maria Carolina* foi uma das comedoras compulsivas que tentou ser bulímica. “Eu comia muito e quando acabava, colocava o dedo na garganta para tentar vomitar, mas nunca consegui”.

O tratamento deve ser multidisciplinar, o que significa que a pessoa que tem o transtorno deve buscar ajuda de psicólogo, endocrinologista, nutricionista e psiquiatra. “O compulsivo tem que passar por exames médicos para avaliar a saúde e o excesso de peso. Após essa avaliação, se houver problemas psiquiátricos, o paciente tem que iniciar tratamento com medicação para equilibrar a química cerebral e melhorar os níveis de serotonina e dopamina”, explica o psicoterapeuta. Combinado com esse tratamento, a pessoa deve procurar uma nutricionista para iniciar um processo de reeducação alimentar, com dieta equilibrada e refeições balanceadas. “O ideal não é proibir nenhum tipo de alimento. O paciente pode comer de tudo, mas deve controlar a quantidade”, diz Karina Barros.

Grupo Comedores Compulsivos Anônimos

Muito recomendado como mais uma forma de tratamento contra a compulsão alimentar, o grupo Comedores Compulsivos Anônimos funciona como o AA (Alcoólicos Anônimos). É uma irmandade de indivíduos que, em reuniões semanais, compartilham experiências, força e esperança para se recuperar do comer compulsivo.

Qualquer um que tenha o desejo de parar de comer compulsivamente pode “juntar-se” ao CCA (Comedores Compulsivos Anônimos). Esse é o único requisito para torna-se membro, o que é efetivado apenas pelo comparecimento às reuniões. No CCA não há taxas ou mensalidades.

O conceito de abstinência é à base do programa de CCA. Os participantes acreditam que o comer compulsivo é uma doença emocional e espiritual que afeta o físico, mas que pode ser detida. Assim procuram viver “um dia de cada vez” tentando abster-se dos alimentos e comportamentos que lhe causam compulsão.

Maria Carolina* freqüenta o CCA há 12 anos e diz que fazer parte do grupo foi fundamental para a sua evolução e recuperação. “Vou às reuniões pelo menos uma vez por semana e is encontros me fortalecem e dão ânimo. Consegui emagrecer 30 quilos e não como mais doces. Com o grupo você aprende a evitar a primeira mordida compulsiva e hoje eu prefiro recusar uma sobremesa a voltar a engordar 30 quilos”.

Carla Figueiredo* também é membro do CCA e conta que emagreceu 19 quilos. “Sempre fui muito ansiosa e controladora. Quando criança, eu era insegura e medrosa. Lembro que, na adolescência, comia muito, passava mal ao ponto de ir para o hospital. Pensava em comida o dia inteiro e planejava farras alimentares. A comida era o meu DEUS, eu era escrava da comida. Sentia-me horrível por não caber nas roupas, nem me olhava mais no espelho e não queria sair de casa. A doença me isolava pra comer. Comia escondida e escondia comida. A última tentativa minha foi o CCA porque tinha gasto muito dinheiro com tratamentos, remédios e programas de perda de peso. No grupo, aprendi que tenho uma doença e que não é por falta de força de vontade que não conseguia emagrecer e manter o peso. Acredito que ninguém gosta de estar acima do peso. Com o programa, melhorei muito e posso dizer que estou me recuperando, recebendo amor e aceitação. Adquiri liberdade da obsessão por comida. Sei que não estou mais sozinha lutando contra esta doença”, disse.

O CCA tem reuniões em diversas regiões do país. Basta escolher a que está mais próxima de você. Para mais informações, acesse www.comedorescompulsivos.com.br

*Os nomes são fictícios para preservar o anonimato das fontes.

Fonte: Cristiana Arcangeli

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