Uma equipe de médicos da Unicamp descobriu que a metformina, um remédio comumente usado para tratar o diabetes, tem boas chances de ajudar no tratamento do câncer. Em camundongos, a droga usada em conjunto com o paclitaxel, um medicamento bastante utilizado em quimioterapias, conseguiu impedir o crescimento dos tumores. Os resultados foram apresentados na reunião anual da FeSBE (Federação das Sociedades de Biologia Experimental), no Rio de Janeiro. O trabalho foi destaque na edição de junho do periódico Clinical Cancer Research.
Desde 2008, sabe-se que a metformina poderia reduzir em até 50% o crescimento de tumores em pacientes diabéticos. A partir desse dado, o médico José Barreto Carvalheira e o biólogo Guilherme Zweig Rocha, ambos do departamento de clínica médica da Unicamp, estão tentando descobrir se o medicamento poderia ser usado para tratar o câncer.
A resposta, por enquanto, é positiva. Carvalheira explica que, em camundongos, a administração da metformina, aliada ao paclitaxel, conseguiu diminuir o crescimento e causar a morte de células cancerígenas. Os cientistas descobriram que o remédio para tratar o diabetes ataca o câncer utilizando a mesma via do quimioterápico, dando um golpe duplo no tumor e impedindo que ele cresça.
Fortaleza — Tumores são estruturas bastante complexas. Os cientistas procuram vias para atacá-los, como se estivessem tentando entrar em uma fortaleza. Muitos tratamentos atacam várias “portas” dessa “fortaleza” de uma vez, na esperança de aumentar as chances de entrar no tumor e destruí-lo. A equipe do médico conseguiu encontrar duas drogas que atacam a mesma porta, que na realidade é uma proteína chamada AMPK. A força do golpe é capaz de permitir a entrada no tumor.
Em vez de desenvolver um novo medicamento, os pesquisadores aproveitaram o conhecimento que já existia. “Sempre se pensa em desenvolver novas drogas, mas é importante que possamos aproveitar o trabalho já feito”, diz Carvalheira. “Esse mecanismo mostra como drogas diferentes podem cooperar para impedir o crescimento de tumores e sugerem que a metformina pode ser um grande aliado no tratamento do câncer”.
Testes clínicos — Com excelentes resultados no modelo animal, a equipe de cientistas começou há um ano os testes clínicos com pacientes que não respondem mais ao tratamento do câncer. O estudo está sendo conduzido no Hospital do Câncer de Barretos, em São Paulo. As análises bioquímicas acontecem no laboratório da Unicamp. Carvalheira está tratando 15 pacientes, e espera ter 90 até o fim da pesquisa, que deve ser concluída em 2013.
O médico tem dois grupos de pacientes com câncer que não respondem a mais nenhum tratamento: o primeiro toma apenas paclitaxel e o segundo recebe doses conjuntas de paclitaxel e metformina. O médico disse que os resultados em humanos ainda não podem ser divulgados, por se tratar de um estágio muito inicial da pesquisa.
A pesquisa está sendo feita em pessoas que não são diabéticas, explica o médico. Ele reforça que o estudo está em fase inicial em humanos e que os efeitos colaterais ainda estão sob análise. “Pacientes com câncer não devem de forma alguma comprar metformina”, alerta Carvalheira. “Estamos esperançosos de que a nossa pesquisa vá ajudar muita gente, mas como tudo na ciência, é preciso ter cautela”.
Fonte: Veja – Abril