Só de ver a expressão do médico com o número, 348mg/dl, Ângela Costa percebeu que algo estava errado. Na época a funcionária pública tinha apenas 36 anos e ainda lutava contra uma hepatite que a deixou debilitada por meses. E foi justamente quando ela superou a doença que outra enfermidade silenciosa foi descoberta: a diabetes.
“Na época eu consumia muito doce e acho que isso influenciou. Minha mãe e pai também eram diabéticos e eu sempre ouvi falar na doença desde criança”, conta. Passado o susto inicial, Ângela deu início ao tratamento. Mas devido a supostos efeitos colaterais, ela conta que as regras não foram seguidas como deveriam. A consequência foi a perda parcial da visão esquerda e problemas também na audição. Desesperada, ela voltou ao médico e recomeçou os procedimentos terapêuticos. Afinal, vendo seu corpo perder a luta contra a diabetes ela lembrou imediatamente do que aconteceu com a mãe. “Ela entrou em coma porque a glicose tinha passado de 600mg/dl. Sei que preciso me cuidar para que não aconteça o mesmo”, afirmou.
Segundo a Federação Internacional de Diabetes, o número de pessoas portadores do mal deve passar de 366 milhões, este ano, para 552 milhões até 2030, caso nenhuma medida urgente seja tomada. Isto significa quase três novos casos a cada dez segundos ou quase dez milhões ao ano. Um levantamento feito pelo Ministério da Saúde aponta crescimento de 10% das mortes provocadas por diabetes no país, entre 1996 e 2007. Agora, ela já é a terceira doença causa de mortalidade dos brasileiros, atrás de doenças cerebrovasculares e do coração.
Tratamento sugere mudança de vida
Felipe Vasco, endocrinologista, explica que a glicose, erroneamente associada apenas ao açúcar, não é sozinha uma vilã. “A glicose é essencial para o funcionamento do nosso corpo. É ela que dá energia às células e nos mantém vivo. Mas para que ela cumpra seu papel deve estar em quantidade equilibrada”, explica. O excesso da substância no sangue faz com que o corpo desidrate, fique fatigado e a visão, embaçada.
Com o tempo a situação se agrava e pode resultar em diversas complicações, sendo as mais comuns, cegueira, Acidente Vascular Cerebral (AVC), amputação de membros e até mesmo coma, cita o médico.
“Tratar a diabetes é sempre complicado porque significa uma mudança de vida para um paciente habituado a comportamentos não saudáveis. Por isso, o ideal sempre vai ser a prevenção. Todos devem ter consciência de que se trata de uma condição que abrevia, aos poucos, a vida do portador”, diz.
Um importante motivo para mudar de atitude, frisa a enfermeira Rita Silva, que há anos trabalha diretamente em campanhas da doença. “O tratamento da diabete requer muitos profissionais juntos, porque envolve vários fatores de risco. Por isso o diabético deve controlar a medicação, alimentação e realizar atividades físicas. Se ele seguir as orientações terá uma vida completamente normal”, garantiu.
Exercícios físicos podem ser grandes aliados
Quando viu uma equipe oferecendo, em pleno corredor do trabalho, exame de taxa glicêmica, a pedagoga Dirce Pinto não hesitou e se agrupou aos demais. Na ocasião a Secretaria de Estado de Saúde realizava, em alusão ao Dia Mundial do Diabetes, celebrado em 14 de novembro, um mutirão para verificar taxas de glicose, peso, pressão arterial e medição de circunferência abdominal. O objetivo foi diagnosticar novos casos da doença e conscientizar aqueles já se tornaram diabéticos.
“Estou no sobrepeso e tenho diabetes como herança genética, então quero ver se está tudo certo com a minha glicose”, explicou Dirce. Ela apoiou a campanha e deu uma explicação para o fato de um exame tão simples ser frequentemente esquecido. “Eu, por exemplo, perco um dia inteiro para fazer um exame mais complexo e acabo adiando esses que levam apenas alguns minutos. Com a campanha, aqueles que nunca fazem não têm mais desculpa para não mudar”, opinou.
Mudar é o que quer também Antonia Araújo. O sorriso no rosto, a fala tranquila e a simpatia indicam tranquilidade e calma. O comportamento contido, no entanto, esconde na verdade um estresse acumulado com o cargo de gerência. Todos os dias ela chega às 8h e deixa o local de trabalho somente depois de 18h. Almoço e lanches são feitos rapidamente, em intervalos no trabalho.
A pressão é constante e qualquer erro na planilha, que gera o pagamento de 42 mil funcionários, pode ser desastroso. Com toda essa loucura, quem sofre é o organismo de Antonia, que constantemente registra taxa glicêmica acima de 140mg/dl. “Acabo comendo besteira e não faço nenhum exercício há muito tempo, mas prometi junto com a minha nora que hoje mesmo começaríamos. Já comprei até as roupas de ginástica”, garantiu.
E a motivação para a nova vida? “Depende muito da força de vontade de cada um e eu estabeleci esse compromisso. A gente sabe que é uma doença que não tem cura, mas dá pra controlar. Eu quero viver mais, ver meus netos crescerem e fazer isso por mim”, afirmou.
PREVENÇÃO
Alimentação balanceada
CONTROLE
o peso e a pressão arterial
EVITE
o álcool e o cigarro
PRATIQUE
exercícios físicos
Fonte: Diário do Pará