1 – O número de casos de diabetes tipo 2 vem aumentando? Por quê?
Sim, estamos vivendo uma verdadeira epidemia de diabetes tipo 2 e sobrepeso/obesidade, particularmente nos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) e também na Península Arábica (Arábia Saudita, Emirados Árabes e Kuwait).
Ora, justamente estes quatro países (BRIC) apresentam em comuns três fenômenos recentes e diretamente ligados ao diabetes:
1 – uma urbanização acelerada;
2 – um desenvolvimento econômico associado a hábitos de vida nada saudáveis nas grandes cidades (estresse, trânsito, fast food e sedentarismo) e
3 – um particular aumento na esperança de vida média (envelhecimento populacional). Só para citar um exemplo, até 2060, 40% da população japonesa estará com mais de 65 anos.
2 – Como se prevenir o diabetes tipo 2?
Pegando o gancho da resposta anterior: é crucial que se reduza a exposição das pessoas aos fatores de risco para DM: sedentarismo, fast food, alimentos tóxicos (gorduras saturadas e refrigerantes), estresse, obesidade ou sobrepeso e tabagismo. Portanto, devemos alertar os governos, as comunidades, as famílias e os cidadãos da importância de se agir em 3 grandes frentes:
1ª – Promover a saúde em todos os âmbitos políticos: planejamento urbano e da construção civil, ciclovias, ambiente de trabalho, parques públicos, exclusão social e pobreza, saúde materna e amamentação (pelo menos nos primeiros seis meses), indústria de alimentos (estoque, distribuição, propaganda e preços) bem como o acesso às novas tecnologias da indústria farmacêutica e de diagnóstico médico.
2ª – Promover dietas saudáveis: redução do teor de sal, gorduras e açúcar nos alimentos e eliminação dos alimentos industrializados ricos em gordura trans. Proibição da propaganda de alimentos não saudáveis (acima) e refrigerantes às crianças e adolescentes.
3ª – Estimular a atividade física: priorizar aulas de educação física não só para crianças, mas em todas as faixas etárias bem como promover o transporte ativo (bicicletas) das populações e um estilo de vida saudável nas empresas e finalmente, mas não menos importante, promoção da segurança pública nos parques e locais de recreação.
3 – Que outras conseqüências graves podem ser causadas pela doença?
DM está entre as doenças mais impactantes e fragilizantes em termos de qualidade e quantidade de vida, pois é líder mundial como causa de cegueira, diálise, amputação não traumática de membros inferiores e problemas nos nervos periféricos como dores severas e úlceras nos pés (neuropatia diabética).
Como se isso não bastasse, os custos em longo prazo do tratamento do DM e de suas complicações (infarto, derrame, cegueira, diálise, amputação e neuropatia) bem como o impacto negativo na produtividade laboral (absenteísmo e aposentadoria precoce) exercem efeitos devastadores na situação econômica dos indivíduos, das famílias e das sociedades. Só para citar um exemplo, estima-se que haverá um aumento de 60% nos próximos 20 anos em relação aos gastos com DM e seu tratamento na América Latina: passando dos atuais U$ 8,1 bilhões/ano para U$ 13 bilhões/ano em 2030 (dados da IDF – 2010).
4 – Muitas pessoas são diabéticas e nem sabem. Que alerta o senhor faria no sentido da conscientização para o problema?
De fato estima-se que há 366 milhões de pessoas com DM no mundo hoje e o pior: 183 milhões não têm consciência desta sua condição (IDF – 2011). Assim, recomenda-se fortemente que todo indivíduo com risco de desenvolver (www.diabete.com.br/diversos/risco.asp) diabetes realize o quanto antes um exame de glicemia de jejum e ou de hemoglobina glicada (HbA1c).
Dr. Luiz Clemente Rolim – CRM = 54.415 (SP)
Mestre em Endocrinologia pela UNIFESP-EPM; Coordenador do Setor de Neuropatias do Centro de Diabetes da UNIFESP-EPM; Membro efetivo da American Diabetes Association (ADA), Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM); Ex Fellow da Yale University.
Site: http://clementerolim.med.br E-mail: [email protected]
Gostaria de obter a informação; este exame que mede a frequência cardíaca e as fibras finas do coração, é indicado só para diagnosticar a neuropatia no início e tratando aumentar as chances da eficácia do tratamento?
Eu já tenho diagnóstico de neuropatia diabética, estou sofrendo muito com as dores, formigamentos e fraquezas. Tenho diabetes há 26 anos. Mas gostaria de saber se este exame diagnosticaria com clareza se tenho neuropatia periférica ou autonômica (autonôma?). Poderia me esclarecer por favor.
Agradeço a atenção.
Mércia