A região de Ribeirão Preto tem cerca de 30 mil obesos candidatos a cirurgia de redução de estômago. Os pacientes atendidos no Hospital das Clínicas, uma das 12 unidades estaduais aptas para realizar esse tipo de cirurgia, são de 26 cidades, que abrangem três milhões de habitantes. Por semana o hospital faz até duas cirurgias.
O processo para conseguir chegar à mesa de operação é longo, e muitos desistem no meio do caminho. A partir do momento em que o paciente é encaminhado para HC, o tempo de espera para a primeira consulta é de 40 semanas.
Atualmente existem 40 pacientes aptos a serem submetidos à cirurgia. Após ser considerado apto o paciente ainda enfrenta uma espera de, em média, quatro a seis meses. Neste período são analisados os últimos aspectos psicológicos, para ter completa certeza de que o paciente se encaixa no perfil para a cirurgia.
“O paciente só pode ser operado com indicações precisas e o sucesso da cirurgia depende das condições físicas e psicológicas dele”, diz o cirurgião do grupo de cirurgia bariátrica Wilson Salgado Júnior.
O Hospital das Clínicas recebe semanalmente cerca de 20 solicitações para cirurgia. Os pedidos são feitos pelos médicos dos postos de saúde. Ao receber as fichas, o médico responsável pela triagem faz análise, pede mais exames se achar necessário e depois agenda um horário com o paciente.
Antes de chegar a cirurgia, o obeso precisa passar por um contínuo acompanhamento com nutrólogos, psicólogos, nutricionistas, para que seja feito uma readequação em sua alimentação que já o prepare para o pós-operatório.
“Existe um fantasma de que a cirurgia de redução do estômago faz milagres, mas isso não existe, se o paciente não segue o tratamento com princípios bem determinados ele vai voltar a engordar”, diz o nutrólogo José Ernesto dos Santos, membro da equipe de tratamento de obesidade mórbida do HC.
Paciente relata drama pré-operatório
O agente de turismo Edson Queiruja é uma “prova-viva” de que o tratamento para realizar a cirurgia de redução do estômago não é fácil. Quando deu entrada no Hospital das Clínicas para começar o tratamento ele conseguiu perder 40 quilos.
No entanto, Queiruja não pôde ser operado, pois não conseguiu deixar de fumar, além de apresentar quadro de ansiedade e depressão, o que gera compulsão por comer e faz com que ele ganhe peso. “Para voltar a ser candidato a cirurgia teria que começar do zero, porque hoje peso mais de 200 quilos, não tem balança que aguente”, lamenta Queiruja.
O agente de turismo conta que tem problemas de hipertensão, depressão, síndrome do pânico e muitas dores nas pernas. Sobre o tratamento que antecede a cirurgia, Queiruja conta que é muito difícil. “Tem muitos obstáculos”. O paciente conta que sofre de obesidade desde quando era criança. Ele diz que fez vários regimes radicais por conta própria e passou por diversos endocrinologistas, antes de iniciar o tratamento no HC. “Quando tinha 18 anos eu pesava 145 quilos, fiz uma dieta. Eu me alimentava uma única vez no dia e consegui pesar 79 quilos. Tudo isso porque queria prestar o tiro de guerra e estava com vergonha do meu peso”.
A vergonha, segundo ele, foi o que potencializou seu abandono ao tratamento no HC. “Eu não tinha condições de ser levado de carro todo dia e pegar ônibus me envergonha, porque preciso entrar pela porta de trás”.
Queiruja diz que pretende voltar ao tratamento, porque seus problemas de saúde se agravaram. “Preciso solicitar um novo agendamento. Estou com má circulação nas pernas. Quero largar o cigarro porque meu sonho é fazer a cirurgia”, comenta.
Fonte:Jornal a Cidade