Primeiro passo para identificar a doença é medir a taxa de glicose. Para evitar complicações, é preciso cortar o açúcar, comer menos carboidratos e fazer exercícios.
O doutor Drauzio Varella está de volta ao Fantástico a partir deste domingo (17) para explicar tudo sobre uma das doenças que mais preocupam os brasileiros: o diabetes, que muitas vezes aparece de forma silenciosa, quase imperceptível. Mas esta é uma doença perfeitamente controlável. O tratamento começa com informação.
Mais de 10 milhões de brasileiros são portadores de diabetes. A população de uma cidade do tamanho de São Paulo. Boa parte desses 10 milhões nem desconfia que tem a doença. Está mais do que na hora de mudarmos essa realidade.
Muita gente nunca mediu a taxa de glicose no sangue. Por isso, a Associação Nacional de Diabetes organiza mutirões em que são feitos mais de 10 mil testes de glicemia.
É nessas ocasiões que muitas pessoas ficam sabendo do risco que corriam. O único jeito de saber os níveis de açúcar no sangue é medir a glicose. E isso começa lavando a mão com água e sabão. O exame é feito em jejum. No adulto, são oito horas de jejum. Na criança, três horas são suficientes. Depois, enxuga-se a mão e passa-se um pouquinho de álcool no dedo. Pega-se um aparelhinho que tem uma agulha e dispara-se essa agulha no dedo. Espremendo, sai uma gotinha de sangue.
No aparelhinho tem uma fita que faz a leitura do açúcar no sangue. Se der abaixo de 100, é porque está normal. Se o valor for acima de 126, é a faixa de diabetes. Nesse caso, o exame deve ser repetido no dia seguinte, outra vez em jejum. Oito horas para adulto, três horas para criança. Se der acima de 126 mais uma vez, é preciso procurar um médico para fazer outros exames porque esta é a faixa do diabetes.
O administrador de empresas Victor Tadeu aproveitou a campanha para fazer o teste. “Deu 277. Ela disse que está bem alta. Eu me alimento normalmente, com saladas e pratos brasileiros, como arroz, feijão e carne. E não sinto nada”, diz Victor.
Ele explica que fez o exame por recomendação da esposa: “Eu tenho esse histórico na família. Minha esposa sempre falou: ‘Olha, você já está com 50 anos. Não sente nada, mas é bem provável que você tenha algum problema. Aí, procuramos o local onde estava acontecendo a campanha. Depois de ser picado, fui logo colocado de lado, porque o exame havia indicado 277. Ela falou: ‘É alta, você está diabético’. Não escapei”.
Naquele dia, a manicure Diva Madalena acordou cedo e foi ao mutirão. Estava se sentindo bem, disposta, já pensando no almoço de domingo. “Deu 516. O normal, em jejum, é até 126. Então, o dela está em níveis bem preocupantes. É bem alto, ela corre risco de vida, é um nível bem complicado. É preciso injetar soro, porque, nesse nível, o corpo sofre uma desidratação. E insulina, para diminuir a taxa. Ela vai ser encaminhada para fazer uma série de exames para ver se já tem complicação de rim, cardiovascular, tudo isso”, explica a voluntária.
“Jamais eu imaginei que poderia ter diabetes. Eu não gosto de doce. Mas eu achei que estava pelo fato de estar bebendo muita água e com a boca seca,” conta dona Diva.
Boca seca o tempo todo é sinal de alerta. Sede que não passa mesmo quando se bebe muita água é um sinal de diabetes. Mas existem outros fome exagerada, emagrecimento, urina em excesso, cansaço, dores nas pernas, machucados que não cicatrizam, visão embaçada. Mas mesmo que você não tenha nenhum desses sintomas, faça um exame de sangue para medir a glicose uma vez por ano.
Victor Tadeu diz que não tinha nenhum sintoma. Por isso, dizemos que o diabetes tem um início silencioso. Quando se chega a ter os sintomas mesmo, como beber muita água, emagrecimento, fome exagerada, fraqueza, cansaço, é porque a glicose está muito alta, em níveis muitos perigosos: 400, 500, às vezes até mais.
O tratamento com soro não abaixou a glicemia de dona Diva Madalena. Ela precisou ser encaminhada para o hospital mais próximo.
“A gente vem fazer uma coisinha à toa no dedinho e vai direto para o hospital. Eu não quero morrer cedo, quero ir até os 80 e olhe lá. Diabetes é só fazer o controle. Mas tudo bem. Tudo tem sua hora”, acredita dona Diva Madalena.
A maior parte das pessoas com diabetes descobre a doença já na vida adulta, como Ruy Marcelo de Freitas, funcionário público que vive na Grande São Paulo. Ele se mudou da capital justamente em busca de uma vida mais saudável, mas acaba usando o carro para tudo e ainda não conseguiu mudar os hábitos alimentares.
Ele mostra o pacote de biscoitos e revela: “Isso é uma tentação absurda. As pessoas trazem, e a gente acaba comendo. Não tem jeito, é incontrolável”, diz Ruy Marcelo.
Para funcionar, as células do organismo precisam de energia. A energia vem da glicose. A glicose não está presente só no açúcar do cafezinho. Ela vem dos carboidratos de modo geral: pão, macarrão, arroz, batata ou mandioca. Só que a glicose, sozinha, não consegue entrar nas células. Ela precisa que alguém abra uma porta por onde possa entrar. Quem faz isso é a insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas, que fica no fundo da cavidade abdominal. Ele produz a insulina, que é quem vai abrir a porta na célula para a glicose poder entrar. Com a porta aberta, ela penetra.
No diabetes do tipo 2, o pâncreas produz menos insulina do que precisa ou existe um excesso de glicose e a insulina não dá conta de abrir as portas na célula. Ela abre algumas portas, mas não o suficiente. Uma parte da glicose sobra na circulação. O diabetes do tipo 1 aparece quando o pâncreas simplesmente para de produzir insulina. Não produz mais. E aí a glicose não consegue penetrar. Toda a glicose sobra.
“Eu descobri que tinha diabetes há mais ou menos seis anos. Diabetes é uma coisa sintomática, mas eu nunca senti nada da diabetes”, conta Ruy Marcelo.
“Eu fiquei preocupada, porque minha família tem diabetes. Vários tios meus morreram por conta disso. Minha mãe é diabética, faz alimentação certinha. Então, ele tem exemplo de como fazer, mas não faz”, diz a professora Cristiane espada de Freitas, mulher de Ruy Marcelo.
“Ele começou de novo com os exercícios, mas parou”, conta Lucas André Espada de Freitas, filho do funcionário público.
“Quem fez muito e de repente parou, ficou 20 anos sem fazer nada, quando retoma, sente o benefício. Eu sei, eu sinto o beneficio, só não consigo perseverar em cima de fazer o que tem que ser feito. É mais gostoso fazer o que não deve ser feito”, reconhece o funcionário público.
“Se você não tentar, nunca vai melhorar. Então, você tem que tentar lutar e não desistir para melhorar. E se você melhorar, pode fazer o que você mais quer”, aconselha o filho de Ruy Marcelo.
“Só eu tenho o botão para começar”, admite Ruy Marcelo.
Sem controle, o diabetes pode virar uma doença muito grave, mas dá para evitar as complicações. É preciso cortar o açúcar da vida e comer menos carboidratos: pão, macarrão, batata, arroz e pizza. Além desses cuidados, é preciso fazer exercícios, dizer adeus à vida sedentária. Atividade física é absolutamente fundamental.
Fonte: Jornal Floripa