É fundamental para o tratamento
Processo de inflamação dos nervos é uma das complicações mais comuns entre os pacientes com diabetes.
Sintomas podem variar de dores intensas à perda de sensibilidade nos pés. Se descoberta no estágio inicial, doença pode ser controlada.
O aumento dos casos de diabetes vem chamando a atenção da comunidade médica e das autoridades ao redor do mundo. A maior disponibilidade de alimentos e os novos hábitos de vida da população urbana contribuem para o fato: o sedentarismo e a obesidade são fatores de risco para o desenvolvimento do diabetes tipo 2. Caracterizada pelo aumento anormal dos níveis de glicose (açúcar) no sangue, a doença está associada a consequências graves como cegueira, infarto e amputações.
Segundo dados da International Diabetes Federation (IDF), o custo global com o tratamento do diabetes passará dos mais de US$ 8 bilhões gastos em 2010 para US$13 bilhões em 2030. Estima-se que no mundo haja mais de 360 milhões de diabéticos. No Brasil, são aproximadamente 12 milhões de pessoas, segundo os cálculos da entidade. Tão grave quanto o crescimento da doença é o desconhecimento a seu respeito: especialistas acreditam que a metade dos diabéticos não saiba de sua condição.
Dr. Luiz Clemente Rolim é endocrinologista, coordenador do Setor de Neuropatias do Centro de Diabetes da UNIFESP-EPM e membro efetivo das sociedades brasileiras de diabetes (SBD) e de endocrinologia e metabologia (SBEM). Ele afirma que a neuropatia diabética, também chamada de neurite diabética, é uma das complicações mais frequentes em decorrência do diabetes mellitus, principalmente do tipo 2, atingindo cerca de 50% de seus portadores. O médico explica que o descontrole glicêmico pode causar a inflamação dos nervos periféricos.
“Podemos definir as neuropatias diabéticas como um grupo heterogêneo de disfunções do sistema nervoso periférico que podem afetar virtualmente todas as fibras nervosas do nosso corpo. Costumo dizer que o açúcar em excesso no sangue é tóxico para os nervos da mesma forma que o excesso de álcool, isto é, ambos são neurotóxicos“, afirma o especialista. Segundo ele, o excesso de açúcar no organismo dos diabéticos favoreceria a proliferação de agentes oxidantes no sangue, substâncias que seriam prejudiciais às células dos nervos, levando-as a um estresse oxidativo.
Por representar um risco em potencial a todo o sistema nervoso periférico, a neuropatia diabética tem manifestações diversas: disfunção erétil, descontrole da evacuação, perda de sensibilidade nas extremidades do corpo, dores nas pernas e nos pés, entre outras. Os efeitos são mais comuns em pessoas acima dos 60 anos e nas mulheres. Geralmente os membros inferiores são os mais afetados, embora a doença também acometa as mãos nos casos mais avançados.
Os sintomas podem ter início a partir do momento em que o indivíduo apresenta descontrole glicêmico, mas em geral, quando surgem, indicam que a neuropatia já se desenvolve há anos. “Por isso mesmo não se deve esperar o aparecimento de sintomas para se fazer o diagnóstico”, afirma o Dr. Clemente Rolim.
A importância do diagnóstico precoce
Segundo Dr. Luiz Clemente Rolim, de 20% a 30% dos portadores de neuropatia diabética sentem dor intensa nas pernas ou nos pés, embora a maioria não encontre alterações visíveis. “Na verdade, a dor é um bom sinal, pois mostra que o nervo ainda está vivo. O pior é quando para de doer, depois de dez anos de evolução da neuropatia, quando o nervo já morreu“, explica. Nesses casos, é grande o risco de o paciente desenvolver feridas nos pés, já que lesões ocasionais não são percebidas. Se não tratadas, elas podem evoluir para ulcerações irreversíveis que, nos casos mais graves, podem levar à amputação do membro.
Dr. Luiz Clemente afirma que a dor em consequência da neuropatia diabética é de difícil tratamento. “A dor neuropática é realmente uma das coisas mais difíceis de tratar em toda a medicina. Felizmente, as pesquisas médicas caminham muito rapidamente neste campo e hoje há muito o que fazer pelos pacientes. O tratamento deve ser sempre holístico, isto é, com uma abordagem global e personalizada do indivíduo portador de neuropatia“, ressalta Dr. Clemente.
Segundo ele, a prevenção e o diagnóstico precoce são fundamentais. Além de manter o controle glicêmico, o paciente diabético deve estar permanentemente atento aos possíveis sinais de neurite. O endocrinologista deve examinar periodicamente os pés de seus pacientes, em busca de indícios de alterações na sensibilidade. Para isto, explica Dr. Clemente, são necessários quatro testes clínico-neurológicos: o térmico, o reflexo aquileu, o teste de sensibilidade dolorosa e a sensibilidade vibratória.
“Por meio desses testes o diagnóstico fica mais preciso, e podemos ainda classificar a neuropatia em leve, que pode ser reversível, moderada ou grave – sempre irreversível“, afirma. Se realizado nos primeiros anos após o desenvolvimento do diabetes, o diagnóstico pode significar a possibilidade de cura da neuropatia diabética, doença que representa uma séria ameaça à qualidade de vida dos pacientes.
“Se conseguirmos prevenir a neuropatia diabética estaremos prevenindo inúmeras internações e cirurgias de amputação, e também poupando bilhões em custos anuais. O impacto da prevenção é muito grande em termos de ônus moral, psicossocial e econômico. Vale a pena investirmos no diagnóstico precoce das complicações do diabetes e na educação dos pacientes e dos profissionais da saúde“, ressalta o médico.
Matéria do Dr. Clemente Rolim para o site Viver Bem